As vidas de Leonardo da Vinci

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Este ano se comemora 500 anos que Leonardo da Vinci partiu deste mundo. Um gênio que embora aclamado por todos nós, meros mortais, sua vida represente algo diametralmente oposto aos conceitos de felicidade da atualidade, pois, sua trajetória foi marcada pelas intensas decepções e combates pessoais em busca do equilíbrio entre a continuidade e a descontinuidade das coisas. Da Vinci, uma das personalidades mais emblemáticas da história da humanidade. Lembrado pelas múltiplas habilidades em várias áreas do conhecimento humano.

Nasceu numa pequena cidade italiana, chamada Vinci, em 15 de abril de 1452, fruto de uma relação com uma camponesa, pela condição social de sua mãe foi considerado filho bastardo. Seu pai pertencia a uma família de notário. Passou a infância morando na fazenda do avô, nesta época, mostrava as primeiras inclinações para o desenho. Tinha por hábito fazer pequenas excursões, para reproduzir os animais, plantas e paisagens. Registrava as suas observações num caderno.

Na cidade de Florença, capital mundial do renascimento cultural, se tornou um pintor reconhecido, chegou aos 14 anos, no atelier do mestre Andre del Verrochio estudou com outros notáveis como Sandro Botticelli e Rafael. Tinha um desafeto pelo escultor Michelangelo. Leonardo acreditava na alquimia, pesquisava as plantas. Possuía uma grande aptidão para as relações humanitárias, em virtude disso organizava apresentações em teatros e festas nos palácios. Um dos traços marcantes foram as inúmeras obras inacabadas.

Ele viveu, por quase 21 anos, em Milão.  “A última ceia” se encontra na igreja de Santa Maria das Graças.  Durante a pintura do quadro fez leituras do evangelho pesquisando o comportamento dos doze apóstolos, andando pela cidade à procura de rostos que pudessem de alguma maneira, aproximar-se dos personagens bíblicos.

Aos 30 anos foi morar no castelo de Ludovic Sforzesco — o moro ­—, que queria reconhecimento e notoriedade na Europa, na época Leonardo representava a inovação e a qualidade, tanto é verdade que foi considerado uma das expressões máximas do Renascimento Cultural.  Ele tinha a alma livre, jamais recebeu educação clássica, aprendia as coisas com esforços pessoais e uma dedicação que beirava a obstinação. Há um comentário de Ludovic a respeito do pintor toscano “Leonardo era um tipo extravagante, não comia carne, nunca foi visto com uma mulher, estava sempre sozinho. Encomendei muita coisa para ele fazer: quadros, afrescos, canais, canhões, fábricas, quarteirões, ruas; ele fez pouquíssimo. A sua grandeza no fim era o limite, porém das minhas damas que maravilha” — a dama do arminho e a mulher de um ferreiro — na primeira pintura trabalhou a tridimensionalidade dos olhos olhando para o lado.

O livro “Leonardo da Vinci” de Walter Isaacson (Editora Intrínseca/2017) foi inspirado nas sete mil páginas dos cadernos de Leonardo — a escrita era um dos seus hábitos — e nas descobertas realizadas, nos últimos anos, sobre sua obra e sua vida nos lugares nos quais esteve. A ciência e arte são duas coisas distintas, embora conectadas na vida de Da Vinci. O livro derruba o mito e o torna humano mostrando que o traço da sua genialidade estava presentes em aspectos visíveis como a curiosidade, uma enorme capacidade de observação, uma visão questionadora e uma imaginação fecunda.

Sua vida era baseada na experimentação: essa é passível de falhas. Tinha dificuldade com a matemática. Nunca conseguiu aprender latim. Muitas de suas ideias jamais saíram do papel. Uma das faltas graves do pintor da Monalisa seria a de jamais ter publicado suas observações e conclusões, assim sendo muita coisa se perdeu ao longo do século, a humanidade reconheceria suas descobertas tardiamente, quando muitas delas teriam sido concebidas por outros. De acordo com as afirmações de Isaacson, “Leonardo estudava pelo prazer da descoberta — não tanto pela vontade de avançar o conhecimento da humanidade”.

As lições deste gênio e, ao mesmo tempo, com todos os defeitos, falhas, limitações humanas, nos leva ao encontro de questionamentos sobre como ele conseguiu multiplicar a sua vida em várias outras vidas, talvez, ele mesmo tenha as respostas: “Assim como depois de um dia bem vivido dá prazer o ato de dormir. Depois de uma vida bem vivida dá prazer o ato de morrer”.

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